sexta-feira, 26 de março de 2010

Recuperação do 7º Ciclo

O 7º ciclo passou e já me sinto bem melhor. Desta vez tive muito pouca náusea, acho que os remédios deram conta do pouco que eu iria sentir. O inchaço que acumulava no terceiro dia de medicação sumiu dois dias depois. O que sumiu também foi o paladar. Sumiu e ainda não encontrei novamente. Além disso, estou com a boca um pouco sensível ainda. Um dia senti algumas dores no ouvido. Depois, começaram alguns zumbidos que me deixaram apreensivos.

Psicologicamente, acho que este ciclo foi o pior. Ainda não entendi o porquê. Esperei por vários dias os efeitos colaterais, mas eles vieram de forma amena. Ao mesmo tempo, minha cabeça parecia meio perdida, pensamentos vagos, uma certa desorganização mental. Estive deprimido até o domingo, quando comecei a melhorar. Sempre tento me manter firme, forte, evito que minhas fragilidades transpareçam, mas neste último ciclo acho que não consegui. Tive muitos pensamentos ruins. Em alguns momentos achei que estava a um passo da loucura. Nunca entenderei como funciona a vida, não adianta tentar. Apesar de ter consciência disso, em alguns momentos começo a refletir sobre o assunto, criar suposições, tentativas mais do que frustradas de entender os motivos e mecanismos da existência. Afinal, penso, logo existo. Não é assim? Se for... Bem, se for... Desisto!

Esta semana começou bem melhor. Olho o calendário e vejo que ainda tenho alguns longos dias até o próximo ciclo e isto me deixa feliz. Estou tentando não pensar muito adiante na linha do tempo, pois as vezes é meio brochante lembrar que o caminho é tão longo. Retomei as fisioterapias e continuo evidenciando progressos. Na terça-feira fui ao Dr. André, que está satisfeito com a evolução e recomendou que eu começasse a fazer movimentos resistidos. Ele analisou os exames de imagem que tinham me deixado duvidoso algumas semanas atrás e corroborou que está tudo bem. Na quarta-feira fui ao Dr. Júlio. Contei sobre os probleminhas auditivos e ele solicitou a avaliação de um otorrinolaringologista. É importante verificar se existe alguma perda na audição, pois a cisplatina pode causar surdez e ainda, segundo o protocolo, preciso receber mais uma dose no 10º ciclo. Hoje fui ao especialista que solicitou uma audiometria. Farei a audiometria na próxima quarta-feira e então não teremos mais dúvidas.

Amanhã começam os exames de sangue para verificar como estão minhas plaquetas e meus leucócitos. Espera-se que estejam em queda vertiginosa. Estou recebendo desde quinta-feira passada, diariamente, injeções de filgrastima (granulokine) para me recuperar da neutropenia. Normalmente, estou com níveis aceitáveis de imunidade na 12ª dose do medicamento, que deve ocorrer na próxima segunda-feira.

Enfim, mais um ciclo se foi. Ainda estou enjaulado em casa, mas em alguns dias poderei me aventurar pelas ruas novamente. Cada dia que se passa é um dia a menos de tratamento. O fim está se aproximando. Do mundo? Não, do mundo espero que não.


P.S.: Hoje é aniversário de Porto Alegre e da minha sobrinha do coração Lara. Parabéns a essa cidade maravilhosa e a esta menina linda.




terça-feira, 16 de março de 2010

7º Ciclo: 2º Dia

O 2º dia do 7º ciclo foi tranquilo. Dormi bastante na clínica enquanto recebia a medicação e o tempo passou rápido. Ainda não senti efeitos acentuados. Não estou tão disposto quanto ontem, mas também não estou me sentindo mal. Hoje comecei a tomar antieméticos de três em três horas para evitar as náuseas. Até o momento estou bem. A tendência é que os próximos três dias sejam os piores da semana, mas espero que este ciclo continue ameno.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Resultados dos Exames de Rotina e 1º Dia do 7º Ciclo

Semana passada levei um grande susto. Era noite de quinta-feira quando meu pai chegou em casa trazendo o resultado dos exames de rotina. Infelizmente, nem todos os laudos estavam prontos e só tínhamos o da cintilografia óssea e o da tomografia computadorizada do abdômen. Este não revelou qualquer alteração, o que é ótimo, ideal, aliviante. Porém a avaliação da cintilografia se mostrou inconclusiva quanto ao membro inferior esquerdo. O restante do esqueleto estava bem, sem alterações e eis aí mais uma vitória.

O estudo cintilográfico foi realizado com 99mTc-metilenodifosfonato (MDP). O traçador foi detectado em vários locais do membro inferior esquerdo, o que pode indicar que existe tumor ativo na região. A análise, porém, feita unicamente através de cintilografia, se mostra inconclusiva, tendo em vista a cirurgia feita recentemente. O laudo tem por conclusão: "Seguimento cintilográfico por neoplasia óssea de fêmur esquerdo mostrando hipercaptações a esclarecer. Sugerimos correlação clínico/radiológica.".

Quando acabei de ler percebi que viveria momentos de terror, angústia e aflição até o dia seguinte, quando receberia o resultado da tomografia do membro inferior esquerdo. Pensei em todo o esforço decorrente da cirurgia, todo o tempo investido para preservar o membro. Seria tudo em vão? Procurei esfriar a cabeça. Dormi um pouco, depois acordei e assisti ao jogo do Inter e fui dormir novamente. Na manhã de sexta-feira fui ao Hospital Moinhos de Vento realizar o último exame de sangue antes do 7º ciclo e apanhar os resultados dos exames que não estavam prontos no dia anterior. Chegamos ao hospital, meu pai e eu, por volta das 08h30min, fiz a coleta de sangue no laboratório e fui aguardar no saguão o resultado dos demais exames. A demora na entrega me deixava ainda mais apreensivo. Imaginava que o laudo teria custado um bom tempo ao médico em função da dificuldade ou do excesso de detalhes a serem observados no meu caso. Enfim, às 10h recebemos os exames que tanto esperávamos. Para a minha felicidade, a tomografia da perna esquerda apontou várias reações cirúrgicas, mas não reações neoplásicas. A do tórax não detectou qualquer anomalia. Agora estava mais aliviado, porém ainda tinha que apresentar os exames ao Dr. Júlio para uma avaliação mais acurada.

Saímos do hospital e fomos direto para a CliniOnco mostrar os exames ao Dr. Júlio. A avaliação foi a que esperávamos. Continuo livre. Mais um trimestre se passou e continuo livre. Parece que tirei um caminhão de 30 toneladas das costas. É difícil se manter sóbrio em momentos de ansiedade, mas não é impossível. Muitas vezes nos entregamos a um diagnóstico inconclusivo como se fosse uma sentença, quando na verdade é apenas uma indicação de que a questão deve ser melhor avaliada.

Aproveitei bem meus últimos dias de folga antes do 7º ciclo. Sábado, fui pagar uma promessa que minha irmã havia feito para que minha cirurgia fosse bem sucedida. Ela me levou até a Catedral Metropolitana para agradecer. Como todos sabem, a arquitetura do lugar é estupenda, uma verdadeira obra de arte no centro de Porto Alegre. Foi um ótimo passeio. Domingo, aproveitei para fazer a minha última refeição livre antes da quimioterapia. Os pastéis estavam muito bons. Sempre é bom sair um pouco em família para arejar as ideias.

Hoje foi o primeiro dia do 7º ciclo. Cheguei à clínica por volta das 08h30min e, após receber medicação para prevenir náuseas e 1,5 litro de soro, recebi 60mL de doxorrubicina (não sei ao certo a concentração da droga) acompanhada de um copo de gelo para minimizar a circulação sanguínea nos arredores da boca e evitar problemas como mucosite e aftas. Depois foi a vez da cisplatina - aproximadamente 1L - que demorou algumas horas para ser administrada. Ao todo recebi 5,5L de soro e fui liberado para voltar ao lar por volta das 17h40min. Estou me sentindo muito bem, tanto que estou escrevendo para o blog. Ainda não sinto nenhum dos efeitos esperados, apenas um leve inchaço (ainda não cheguei ao estágio "japonês"). Torçamos para que amanhã seja mais um belo dia e que os efeitos sejam amenos. Agora que a peleia já começou, vamos terminar com ela logo!

domingo, 7 de março de 2010

Recuperação do 6º Ciclo

A semana que se passou foi excelente. Apesar de ser a primeira semana de recuperação do 6º ciclo, meu corpo parece estar muito bem adaptado ao methotrexate, visto que os efeitos têm se tornado mais amenos ao passo que recebo novas doses da droga. Outra evidência está nos resultados dos exames de sangue, que demonstraram que quase todos os índices retornaram à normalidade em um curto espaço de tempo.

Na terça-feira que passou retornei ao Hospital da PUCRS para avaliação da cirurgia. Fiz a primeira radiografia do meu novo joelho de plástico e metal. A cimentação está boa e de um modo geral a recuperação também. Já consigo fazer quase tudo, apesar de ainda ter dificuldade em algumas tarefas como subir e descer escadas, colocar tênis, entrar no carro. Mas vejam bem, agora apenas tenho dificuldade, isto significa que eu já consigo fazer tudo isso, o que me garante mais qualidade de vida, independência e liberdade. Na última quinta-feira, durante a fisioterapia, medimos a flexão. O resultado foi 52º sem auxílio. Com esta amplitude já consigo sentar sem objetos auxiliares e caminhar muito mais próximo da normalidade.

Estou me sentindo tão bem, que semana passada pude retornar a uma das maiores paixões da minha vida. Voltei ao Beira-rio. Nunca passei tanto tempo longe do templo sagrado. Como é bom respirar aquele ar, gritar gol (e foram 4), vibrar com um carrinho do Guiñazu! Estava com saudade. Esse jogo me deu um novo fôlego. Agora posso enfrentar mais 6 ciclos de quimioterapia!

Mudando de assunto, ganhei de presente da minha noiva amada o livro "Anticâncer - prevenir e vencer usando nossas defesas naturais" do psiquiatra e pesquisador na área de neurociência David Servan-Schreiber. O livro traz o relato de um médico que lutou contra o câncer e, a partir de suas experiências, mudou seu estilo de vida. Iniciei a leitura e alguns pontos me chamaram a atenção, não pude deixar de refletir. Primeiramente o autor se baseia no fato de que nosso corpo está constantemente gerando células defeituosas, entretanto existem mecanismos naturais que impedem o nascimento de tumores. Por algum motivo, estes mecanismos falham. Os métodos apresentados na obra estão além dos habituais e não estão revestidos de comprovação científica. Basicamente sugerem um novo ponto de vista sobre a maneira como vivemos. Apesar disso, alguns argumentos são impressionantes. Destaco dois que me causaram certo espanto:

1º) Os cânceres na Ásia são de sete a setenta vezes menos frequentes que no Ocidente. Como explicar que japoneses que migraram para o Ocidente passaram a sofrer com a doença na mesma frequência que os ocidentais após duas ou três gerações?

2º) Uma pesquisa realizada na Dinamarca com pessoas adotadas identificou uma correlação não-genética para o câncer: filhos adotados não apresentavam variação na probabilidade de desenvolver câncer em função da morte de pais biológicos pela doença antes dos 50 anos, entretanto a probabilidade de morrer por câncer era multiplicada por 5 quando se fazia uma correlação com a morte de pais adotivos pela doença. Como explicar este fenômeno?

Fiquei tentado a terminar a leitura que comecei. Gosto de degustar cada página devagar para entender bem o que leio. Longe de mim fazer propaganda, mas sugiro a leitura para aqueles que buscam informações não-convencionais, mas ao mesmo tempo também não-sobrenaturais, sobre maneiras de lidar com a doença. Continuarei escrevendo aqui no blog sobre os pontos que achar interessantes, intrigantes ou relevantes.

Enfim, a semana que passou foi maravilhosa e a que está começando também será. Afinal, será a última de folga antes do 7º ciclo de quimioterapia, quando receberei as temidas doxorrubicina e cisplatina. Digo temidas porque eu as temo, estou sendo sincero. Mesmo sabendo de tudo que pode acontecer e sabendo que já superei esta medicação em outras duas oportunidades, continuo temendo e respeitando. Amanhã começarei uma nova bateria de exames de rotina com uma cintilografia óssea. Na terça-feira terminarei com uma tomografia computadorizada. Que seja uma excelente semana para todos!