domingo, 8 de agosto de 2010

12º Ciclo Vencido

Mais um! O 12º já é passado e hoje vim atualizar o blog quanto a este ciclo agitado que se foi. A internação ocorreu no domingo passado (01/08/2010). Fiquei no quarto 917 do Hospital São Lucas da PUCRS. Recebi 15,5 gramas de methotrexate na segunda-feira, dia 02/08/2010 e já no primeiro exame de sangue tivemos uma surpresa: a dosagem da droga, que deveria ser levemente superior a 1.000 μmol/L, estava acima de 2.000 μmol/. A primeira impressão era de que meus rins não estavam filtrando como deveriam e pudemos confirmar isto nos dias que seguiram através dos níveis de creatinina (bati meu recorde - 1,45 mg/dL). A verdade é que os meus pobres rins já estão demonstrando cansaço diante do bombardeio de drogas a que estão submetidos há quase um ano. Está certo que eles nunca foram muito santos e sempre demoraram um pouco mais que o normal para expelir a droga, entretanto nos últimos dois ciclos ficou evidente que estão, de certa forma, abalados. Difícil é dizer se isto é temporário ou não. Pelo andar da carruagem deverei intensificar o acompanhamento nefrológico para que consiga cumprir todo os dezoito ciclos do protocolo.

Em decorrência desses percalços, só recebi alta ontem pela tarde. Apesar de ter ficado um dia a mais no hospital, não fiquei aborrecido. Me surpreendi com o meu próprio autocontrole... Consegui entender que não interessava o tempo necessário para receber alta, mas sim que quando eu fosse liberado eu estivesse realmente apto. Senti a mesma sensação de conformismo de quando rodei em uma cadeira na faculdade porque realmente não dominava o conteúdo e, portanto, não tinha condições de ser aprovado.

Quanto aos níveis de desidrogenase láctica, que me deixaram angustiados no fim do mês passado, o último exame de sangue que fiz em 28/07/2010 desfez a minha paranóia. O resultado foi 365 U/L, o índice mais baixo desde que comecei o tratamento. Imagino que a anormalidade apresentada tenha sido resquício do 11º ciclo de quimioterapia. Toda a tensão já está desfeita. A fosfatase alcalina também continua baixa, o que é motivo de alívio.

Nos próximos dias realizarei mais exames de sangue para acompanhar meus índices imunológicos e uma nova bateria de exames de imagem (tomografia computadorizada e cintilografia óssea). Por enquanto está mantida a dieta de "cozidos e fervidos", que nem é tão ruim assim para quem adora um bom arroz com feijão. Nos últimos dias, tenho preferido as sopas para conseguir ingerir mais líquidos. Quanto aos exames de sangue, vou abandonar um pouco o braço esquerdo por uns tempos, pois na última semana foram nove coletas no coitado. Já não tem onde furar. Agora é a vez do braço direito sofrer um pouquinho.

Para outros pacientes da oncologia:
Assisti uma breve entrevista com Isabel Allende - filha do ex-presidente chileno Salvador Allende e escritora consagrada com A Casa dos Espíritos - e ouvi uma frase que me tocou bastante. Senti respaldada a ideia de que meu blog tem um sentido muito importante para mim. Em outras palavras, ela disse que quando escreve consegue dar dimensão à dor. É realmente o que sinto. Quando nos colocamos na tarefa de redigir nossos sentimentos, acabamos por, de alguma forma, dimensioná-los. Isto talvez até não seja tão bom para sentimentos agradáveis, mas para a dor pode ser interessante, pois conseguimos reconstruir a nossa visão dos fatos a partir de novas perspectivas. Somos forçados a imaginar sofrimentos semelhantes ou então situações que representem - de forma caricata ou não - essa nossa dor. Decidimos compará-la com o crepúsculo de um dia cinzento ou com uma tempestade em alto mar. Com o frio cortante de um indigente ou com a agonia de um torturado. Acredito que escrever, se feito com prazer, pode ser uma boa terapia, uma maneira excelente de manter mente sã em um corpo que também queremos são.

Por fim, gostaria de desejar a todos os pais que acompanham o blog um feliz dia dos pais. Obviamente, desejo isto em especial ao meu pai, que considero o melhor pai do mundo. Nunca conseguirei agradecer toda a dedicação e amor que ele tem por mim. É meu exemplo de princípios e valores. A base forte de meu caráter e da minha personalidade. É o que eu quero ser quando crescer, é o meu maior ídolo. Pai, obrigado por tudo!




Só para esclarecer: eu tenho a impressão de que ele é colorado mesmo.