terça-feira, 29 de março de 2011

A Volta à Rotina

A rotina já me dominou novamente. Aquele ritmo louco de trabalho e estudos voltou a minha vida e como isso é bom. Nas últimas semanas nem consegui parar para escrever aqui no blog.

As duas primeiras semanas foram um pouco mais complicadas. Já não estava mais acostumado a acordar cedo, dormir pouco e passar o dia todo fora de casa, movimentando-me com mais intensidade. Além disso, agora existe um componente novo: um joelho de plástico, que oportuniza algumas dores e limitações que eu não tinha antes desse fatídico episódio na minha vida.

Faz um certo tempo que não comento sobre a minha endoprótese e percebi que falei bem pouco dela aqui no blog depois da cirurgia. Parece que foi ontem que acordei na sala de recuperação e olhei diretamente para o meu pé para ver se ele ainda estava comigo. A primeira ação foi movimentá-lo e então uma sensação de alívio tomou conta de mim. Os meses que seguiram foram de muita dificuldade. Larguei as muletas 15 dias após a cirurgia. Apesar de ainda ter pouca flexão e um pouco de dor oriunda dos traumas cirúrgicos, naquele tempo já conseguia me locomover com algum esforço.

Sete meses e muitas sessões de fisioterapia depois disso, consegui 86º de flexão, o valor máximo que alcancei e que me permitiu caminhar com naturalidade e ter algum conforto ao sentar. Hoje, se alguém desconhecido me observa em caminhada dificilmente percebe as minhas dificuldades.

A título de esclarecimento, não se pode imaginar que a endoprótese irá garantir todas as funções de um joelho humano. Tive até que abandonar a minha extensa e bem sucedida carreira futebolística (um amigo meu disse que o futebol agradece). A realidade é que não posso mais praticar qualquer esporte que envolva corrida ou um certo grau de impacto. Além disso, o cansaço é mais frequente e alcançado com mais facilidade, o que resulta em algumas dores indesejadas após uma movimentação mais expressiva. Além disso, as endopróteses têm uma vida útil, que é muito difícil de determinar, pois varia de acordo com a forma de utilização, a qualidade do material e do cirurgião.

Eu já sabia de tudo isso antes da cirurgia. O ortopedista que me operou, um profissional sério e qualificado, informou-me sobre esses inconvenientes. Ele me disse que uma de suas pacientes está há mais de 20 anos com a mesma endoprótese, enquanto outros precisaram realizar a troca ou manutenção em menos de 10 anos. A medicina não é uma ciência exata, é preciso entender isto para interpretar corretamente as informações. É impossível dizer que um determinado procedimento é o melhor em qualquer hipótese, pois cada caso é um caso. Existem casos em que a endoprótese não é viável. Em outros além de viável tem resultados excelentes. Eu sou muito feliz por ter preservado minha perna, mesmo que não exista garantia de que poderei mantê-la até o fim da minha vida. A endoprótese preserva mais que o membro, preserva uma série de valores subjetivos e importantes na vida de um ser humano.

Apesar dessa minha satisfação em ter tido êxito na manutenção da minha perna, percebi que, mesmo que o destino não tivesse me agraciado com esse joelho de brinquedo, eu teria elementos suficientes para ser feliz, pois este é um aspecto secundário da doença. Vencer o câncer uma vez já é sensacional, imaginem então sair com qualidade de vida! Muitas vezes achamos que somos infelizes, pois não sabemos que precisamos de muito pouco para ser feliz. Reclamar da vida é muito fácil e cômodo. Difícil é correr atrás, lutar até o fim, se entregar na busca de um resultado incerto, mesmo sabendo que o seu adversário é a própria morte e que ela pode ser antecedida de muito sofrimento. É por isso que desejo a todos que passam por esta doença força e coragem, pois são estes os valores que não permitirão esmorecer e se entregar. Costumo dizer que ninguém deseja essa doença, mas se ela vem, que seja possível aprender um pouquinho da vida com ela, repensar valores, reencontrar sentimentos e nascer de novo!


José Alencar

Hoje faleceu um dos símbolos nacionais da luta contra o câncer, o guerreiro José Alencar, um doloroso dia para aqueles que compartilham da doença. Em sua homenagem, colei a frase a seguir do blog da minha amiga Karina.

"Não tenho medo da morte, porque não sei o que é a morte. A gente não sabe se a morte é melhor ou pior. Eu não quero viver nenhum dia que não possa ser objeto de orgulho. Peço a Deus que não me dê nenhum tempo de vida a mais, a não ser que eu possa me orgulhar dele."

"Eu não titubeio. Se é preciso fazer, é feito. Vou te dar um dos segredos: é, provavelmente, não ter medo da morte. O que eu tenho medo é da desonra, porque um homem honrado não morre nunca, e o homem que perdeu a honorabilidade morre em vida. Pensa que está vivo, mas as pessoas o evitam, não querem conhecê-lo, não querem conviver com ele, fazem questão de dizer que não o conhecem."

José Alencar


O Super Juliano

No último domingo fui visitar meu amigo Juliano no Hospital da PUCRS. Ele esteve internado no mesmo andar que eu nas últimas quimioterapias que fiz e esta semana ele também está encarando a última do seu tratamento. A surpresa foi chegar ao quarto e vê-lo a jogar vídeo game com o Tinga! Tá importante esse guri! Força cara!