terça-feira, 26 de outubro de 2010

Angiogênese

Em complemento à postagem anterior, encontrei os vídeos a seguir que explicam resumidamente a formação de um tumor e de uma metástase.






quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Formação de um Tumor

Comecei a escrever a postagem sobre o chá verde, porém esbarrei em uma questão fundamental: para entender o eventual benefício é necessário primeiramente entender o mecanismo através do qual se formam e se desenvolvem os tumores malignos no nosso organismo. Para entender esse mecanismo, é importante conhecer como ocorrem o processo inflamatório e a angiogênese. Segue resumo.



A Inflamação

A inflamação é um fenômeno fisiológico que consiste em uma reação do organismo a uma agressão (lesão celular ou tecidual). Trata-se de um mecanismo de defesa do corpo, um fenômeno imunológico.

Resumidamente o processo inflamatório ocorre da seguinte forma:
Inicialmente as plaquetas se concentram no local afetado liberando substâncias químicas (PDGF - Platelet-derived growth factor ou "fator de crescimento de derivação plaquetária") que atraem os glóbulos brancos. Estes, por sua vez, irão liberar outros mediadores químicos (citocinas, quimiocinas, prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos) que irão conduzir todo o processo de reparação celular.

Primeiramente, elas irão dilatar os vasos sanguíneos da proximidade para viabilizar a chegada de células adicionais (como se tivessem aguardando reforços para o combate). Em seguida ativam a coagulação sanguínea em torno das plaquetas e tornam os tecidos adjacentes permeáveis, facilitando o acesso das células imunológicas. Por fim, promovem a multiplicação das células do tecido afetado de modo a suprir o espaço deixado e formam novos vasos sanguíneos para o transporte de oxigênio e nutrientes ao local reconstruído.


Em harmonia, os processos inflamatórios são essenciais ao organismo. Uma característica importante é que são autolimitados, ou seja, tão logo cesse a necessidade de reparações, cessa também o crescimento de novos tecidos.




A Angiogênese

A angiogênese é o fenômeno pelo qual são criados novos vasos sanguíneos a partir de outros já existentes. O surgimento de novos vasos ou capilares acontece em circunstâncias bem específicas: durante o crescimento, após as menstruações e na reparação de lesões.




A Formação de um Tumor

Por motivos diversos (exposição a agentes carcinogênicos, predisposição genética...), uma célula sofre mutação. O resultado é uma célula desorganizada, geneticamente alterada e diferente das demais células que compõem o tecido na qual está localizada.

O sistema imunológico é chamado a intervir, porém de maneira perversa as células cancerosas se utilizam do processo inflamatório gerado naturalmente em torno de si para crescer. Elas passam a produzir mediadores químicos (as mesmas citocinas, quimiocinas, prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos) que potencializam a sua própria multiplicação e tornam permeáveis os tecidos adjacentes, facilitando a sua proliferação e penetração no fluxo sanguíneo, o que permitirá o surgimento de metástases.


Em um processo inflamatório normal os mediadores químicos param de ser produzidos tão logo os tecidos estejam reparados, porém nesse caso a produção não é interrompida. Essas substâncias se tornam abundantes no local, ocorrendo apoptose (suicídio celular) nos tecidos vizinhos, de forma a impedir a proliferação anárquica dos tecidos. O excesso de fatores inflamatórios desorienta os glóbulos brancos. Sendo assim, o tumor não é mais atacado e passa a aumentar de forma desorientada.


Como ocorre em qualquer célula, para sobreviver, crescer e se multiplicar as células cancerosas precisam de nutrientes e oxigênio. O abastecimento é feito através de novos capilares formados pelo tumor (angiogênese). A formação destes vasos é estimulada pelo tumor ao liberar "angiogenina", substância que atrai os vasos existentes na sua direção através de novos caminhos. Desta forma, o tumor se torna sustentável e passa a crescer e se disseminar pelo organismo.


Em síntese, para ocorrer o surgimento de um tumor as células cancerosas se utilizam do sistema imunológico, promovendo o processo inflamatório e desorientando as células de defesa. Além disso, através da angiogênese um tumor se torna capaz de receber oxigênio e nutrientes que resultarão na sua sobrevivência e permitirão seu desenvolvimento e proliferação no organismo.



O objetivo desta postagem era apenas introduzir o assunto para os que acompanham o blog, de modo a facilitar o entendimento de postagens futuras. Infelizmente não encontrei figuras esquemáticas que representem os processos descritos e facilitem a compreensão dos mecanismos, mas caso encontre, atualizarei a postagem. A fonte é o livro "Anticâncer - Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais" de David Servan Schreiber. No livro outras diversas fontes são citadas. Se alguém quiser saber mais, recomendo a leitura.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

14º Ciclo Vencido

Um a mais na conta. Ou a menos. Depende do ponto de vista. É mais uma batalha que foi vencida, é menos uma batalha a lutar. Um ano atrás eu não conseguiria imaginar estes números. Quatorze por um lado, quatro por outro. Da mesma forma, ainda não consigo imaginar os números ainda mais importantes. Dezoito por um lado, zero por outro. Este zero que pode ter tantos significados, zero câncer, zero tratamento, zero internações, zero ansiedade, zero sofrimento. Difícil imaginar. Difícil realizar. Uma emoção inenarrável quando acontecer.

O 14º ciclo foi muito tranquilo. Eu diria que foi o ciclo mais tranquilo até agora. Internei no dia 03/10/2010, isto mesmo, no dia das eleições, após cumprir com a minha obrigação de cidadão brasileiro (eu preferiria dizer exercer meu direito ao voto em uma sociedade democrática, mas acontece que o voto ainda é obrigatório, portanto não estou exercendo um direito e sim cumprindo as normas do Estado). Recebi 14g de methotrexate no dia seguinte, a menor dose até o momento e fui liberado na sexta-feira da mesma semana. Todos os índices acompanharam a curva correta. Os rins funcionaram bem e não senti muitos efeitos colaterais.

Enfrentei bem mais essa semana de internação. A reclusão não é muito agradável, mas já desenvolvi ferramentas para ajudar a combater a ansiedade e fazer o tempo passar um pouco mais rápido. Pontuei algumas ideias a seguir.


1- Evitar pensar no tempo
Pensar no tempo é algo que faz o tempo dilatar. O paciente normalmente fica ansioso pensando e calculando quanto tempo ainda falta para sair da reclusão. O interessante é que várias vezes me peguei contando o tempo em função de variáveis secundárias, por exemplo: "faltam três 'Jornais do Almoço' para ir embora" ou "não acredito que ainda tenho que encarar mais dois 'Vídeo Show' ainda".

2- Evitar a cama
Nas primeiras internações eu passava muito tempo na cama. Acordava e não tinha vontade de levantar. Acabava ficando praticamente o dia todo deitado. Isto é muito ruim. Temos que considerar que a partir de um certo tempo (normalmente a partir de terça-feira) já não existe mais sono, portanto mesmo que se fique deitado, não se consegue dormir. Além disso, o humor ficava horrível, a cabeça vazia pensando besteira, sentia menos vontade de comer e sentia mais dificuldades em ir aos pés. Enfim, a cama não ajuda o tempo a passar mais rápido na nossa cabeça, nos debilita fisicamente e psicologicamente. Portanto, cama só para dormir.

3- Evitar a TV nos horários que não agradam
A televisão do hospital é quatorze polegadas. A distância da cama, do sofá e da poltrona que existem no quarto até a televisão é grande. Os canais disponíveis são os da TV aberta. Não bastasse tudo isto, a imagem é ruim, cheia de sombras e toda tremida. Apesar disso, a televisão realmente ainda ajuda bastante a passar o tempo nas horas em que a programação é pelo menos razoável (poucas horas no dia). Então assisto apenas os programas que tenho vontade. Programo toda a minha rotina (almoçar, lanchar, jantar, ir ao banheiro e tomar banho) de acordo com a TV. Adiei meu horário de almoço em quase duas horas para acompanhar todos os noticiários e programas esportivos que passam entre as 12h e as 14h. Da mesma forma, tomo banho ou no horário dos filmes imbecis ou no horário da pior novela do momento. Tento segurar as idas ao banheiro durante os programas, reservando os horários de propaganda para realizar minhas necessidades fisiológicas. É claro que com a rotina "exaustiva" que tenho no hospital não é possível completar todo o espaço de programação ruim da TV. Esse tempo que sobra (é muito tempo!) reservo para o item a seguir.

4- Realizar atividades que der vontade
Levo sempre um livro e o notebook para o hospital, então dá para ocupar o tempo com estas atividades. Leio um pouco. Jogo um pouco. Navego na internet um pouco. Torno a ler. E assim segue. Outra atividade que no meu caso não se aplica devido à total ausência de dom é a música. Para quem sabe tocar algum instrumento, nada melhor do que aproveitar o tempo para tentar tirar aquela música nova ou então aquelas velhas e boas de sempre. Cheguei a comprar um violão. Tentei tocar, aprendi algumas coisas, mas falta o dom. Não tive a paciência necessária e acabei largando o instrumento. Agora ocupo meu tempo com as aptidões que não me faltam.

5- Olhar para a rua
As janelas do quarto são bem altas e enormes, mas vou várias vezes até elas para contemplar a rua. Consigo ver algumas árvores, alguns morros, o estacionamento do hospital e a avenida Ipiranga, sempre movimentada.

6- Tomar banho com bastante calma
Sei que não é ecológico, mas ficar um tempo a mais no banho faz uma diferença enorme no humor. Deixar a água quente cair um pouco sobre o corpo por vezes dolorido, ajuda muito a desestressar e relaxar. Também não posso exagerar, pois a bateria da bomba de administração de soro acaba rápido, mas vale a pena gastar uns 20 minutos embaixo da água quente.

7- Conversar com quem estiver perto
No meu caso, minha mãe, meu pai e a Denise me acompanham sempre. Sempre tem alguém comigo. Às vezes o assunto acaba, mas aí a gente repete, fala de novo das mesmas coisas, lembra de alguma coisa do passado. Assim o tempo acaba andando mais rápido. Quando o pessoal da enfermagem entra no quarto também vale a pena dar uma palavrinha.

8- Receber visitas
Acho que esta é a maneira mais eficaz de fazer o tempo passar. Receber visitas dos amigos ou familiares faz o tempo voar. Na última internação recebi várias visitas, todas me ajudaram muito a conter a ansiedade.



Hoje foi dia de consulta. O Dr. Júlio prescreveu alguns exames de sangue para verificar como estão os índices. Agora já é hora de ir dormir, porque amanhã (tecnicamente hoje, mas como eu ainda não dormi, para mim é amanhã) pela manhã eu tenho que fazer um deles.




Assistindo Resident Evil 4 - 3D