sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Fim do 6º Ciclo

E lá se foi mais um ciclo de quimioterpia. Recebi alta hoje de tarde e já estou em casa. Este ciclo foi bem tranquilo, praticamente não senti os efeitos comuns, apenas falta de apetite e um pouco de inchaço e sensibilidade na boca.

Toda vez que retorno para casa tenho a sensação de estar retornando ao mundo. Parece que enquanto estou no hospital estou atravessando um caminho sombrio e desconhecido, que me causa as mais estranhas sensações: medo, angústia, incerteza, raiva, enfim, muitos pensamentos ruins retornam nestas horas. São recaídas inevitáveis diante de um momento de fragilidade física e emocional.

Agora estou eu em casa, retomando o fôlego e aproveitando um pouquinho mais da vida enquanto não chega o 7º ciclo. Semana que vem terei consulta ao oncologista, exames de sangue e será tempo de refazer os exames de rotina para atestar a inexistência de metástases. Em meio a tudo isto a vida segue seu curso natural, todos envelhecendo a cada dia. Não deixemos para amanhã o que podemos fazer hoje.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

6º Ciclo: 2º dia

A quimioterapia foi administrada ontem entre as 14h10min e 18h30min. Felizmente até o momento estou bem, sem náuseas e com pouco inchaço na língua. Desta vez a aplicação foi de 17g de methotrexate, 3g a menos em relação a primeira aplicação e os resultados continuam ótimos, portanto no próximo ciclo ainda poderemos reduzir a quantidade aplicada. A batalha continua!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Fim das Férias

Hoje minhas férias terminam. Às 17h serei internado no Hospital São Lucas da PUCRS para reiniciar as quimioterapias. Será o 6º ciclo de 18, o 1º dos 13 restantes pós-cirurgia. Mais uma vez receberei methotrexate (droga amarela) em altas doses.

Já estou há dois meses sem receber tratamento quimioterápico, portanto já está mais do que na hora de retomar. Estas férias foram excelentes, apesar de estar operado e não ter muita mobilidade, passar um tempo sem quimioterapia me fez sentir de novo o gostinho da vida no seu ritmo normal, sem enjoos, com liberdade para me alimentar, vendo o cabelo crescer, raciocinando 100%.

Agora é hora de recomeçar as quimioterapias. É assim que tem que ser. Se tudo der certo, ao fim deste ano estarei livre outra vez, mas com a vantagem de não ser apenas "férias do tratamento" mas o meu dia-a-dia pelo tempo que me for permitido.

Quanto às fisioterapias, está tudo certo. A cada semana ganho mais alguns graus de flexão e as dores diminuem. Já consigo 40º sozinho e 45º com ajuda. Na madrugada de sexta-feira consegui, pela primeira vez, fazer o movimento de elevar a perna esquerda inteira e tirá-la do chão ao estar sentado. Até então eu julgava impossível em decorrência das dores. Estavam comigo minhas irmãs e minhas sobrinhas, que também se emocionaram com esta vitória. Fui dormir radiante de felicidade.

Enfim, que venha o 6º ciclo. Não sei como meu corpo reagirá, visto que já estou há algum tempo sem quimioterapia. Imagino que será tranquilo, mas isto só poderei afirmar durante a semana. A guerra ainda vai longe, a próxima batalha está por começar!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Análise Patológica

A semana que passou foi bem agitada. Retirei os pontos na quarta-feira. Na quinta tive consulta com o Dr. Júlio e na sexta recebi o resultado da avaliação patológica da peça retirada na cirurgia. Conforme laudo, o índice de necrose, segundo a classificação de Huvos, foi grau II. Isto significa que havia uma necrose predominante porém existia mais de 10% de tumor viável, ou seja, existia necrose e ela era inferior a 90%. A escala vai do grau I ao IV, sendo o IV correspondente a inexistência de tumor viável, o melhor prognóstico possível. Além disso, a dimensão da neoplasia, que fora estimada em 8,5 cm na última ressonância magnética, na verdade era de 6,5 cm no seu maior diâmentro.

O resultado do tratamento quimioterápico neoadjuvante não foi o melhor de todos conforme demonstra uma boa parte dos estudos estatísticos sobre osteossarcoma. Alguns estudos tratam necrose inferior a 90% como "prognóstico desfavorável". Isto porque estes modelos sugerem uma relação direta entre a sobrevida - tempo livre de tumor após a retirada do mesmo - e a necrose tumoral: quanto maior a necrose, maior a chance de estar livre da doença em um determinado intervalo de tempo (normalmente os estudos tratam de sobrevida em cinco anos). Entretanto, nos últimos anos surgiram estudos que contestam estes números, comparando-os, inclusive, com a opção de não se realizar a quimioterapia neoadjuvante. Em um destes estudos, uma análise de 100 casos demonstrou que a sobrevida do grupo que não utilizou quimioterapia neoadjuvante foi em torno de 69% em cinco anos, enquanto que os que realizaram tiveram uma sobrevida de 61% no mesmo período. Além desses estudos, existem muitos relatos de casos classificados como grau III e IV segundo a escala de Huvos que tiveram recidiva em menos de um ano após cirurgia de ressecção tumoral.

Diante destas informações e considerando os estudos mais recentes, a única coisa que consigo concluir é que o osteossarcoma possui um caráter muito aleatório, parece não ter muita lógica, varia muito de paciente para paciente. O fato do meu tumor não ter tido um grau maior de necrose também pode estar relacionado à antecipação da cirurgia, portanto não existe um motivo claro para pensar em um prognóstico desfavorável. Por outro lado, existem motivos de sobra para lutar até o fim. A guerra ainda está na metade, muitas batalhas ainda virão e a próxima será o 6º ciclo de quimioterapia, cuja droga a ser aplicada é o methotrexate (amarela). Em princípio, serei internado no dia 21/02/2010 no Hospital São Lucas da PUCRS, onde ficarei até o final da semana.

Outra luta que tenho travado é a fisioterapia. Confesso que esperava encontrar maior facilidade, porém o quadro está evoluindo. Na primeira semana a minha flexão máxima era de 25º. Semana passada atingi os 35º. Tenho certeza que em breve atingirei os 90º e a partir daí tudo passará a ser normal. A boa notícia é que ao retirar os pontos, o Dr. André receitou que eu ande sem muletas, o que tenho feito mancando mas sem maiores dificuldades.

Para quem ainda não viu a cicatriz após a retirada dos pontos, segue a foto:


Ainda com os pontos.


Sem os pontos.

A seguir alguns estudos disponíveis na web:

Protocolo anatomopatológico para neoplasias ósseas malignas após tratamento quimioterápico
http://www.fleury.com.br/Medicos/SaudeEmDia/Artigos/Pages/Protocoloanatomopatol%C3%B3gicoparaneoplasias%C3%B3sseasmalignasap%C3%B3stratamentoquimioter%C3%A1pico.aspx

Osteossarcoma pélvico
http://www.rbo.org.br/materia.asp?mt=1456&idIdioma=1

Significado Prognóstico do Tamanho Tumoral no Osteossarcoma Infantil
http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/657/65710302.pdf

Características clínicas do osteossarcoma na infância e sua influência no prognóstico
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0021-75572004000100013&script=sci_arttext

Locais incomuns de metástases do osteossarcoma: relato de nove casos de uma mesma instituição
http://www.rbo.org.br/materia.asp?mt=933&idIdioma=1

Osteossarcoma: experiência do Serviço de Oncologia Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-36162008000300002&script=sci_arttext

Bone: Conventional osteosarcoma
http://atlasgeneticsoncology.org/Tumors/ConvOsteoID5344.html

Osteossarcoma - A cura possível
http://www.revistapesquisamedica.com.br/PORTAL/textos.asp?codigo=11578