terça-feira, 18 de outubro de 2011

Sentido

Nem parece, mas já fez dois anos que recebi a notícia que virou a minha vida de pernas para o ar. Era 31/08/2009 quando li o resultado da ressonância magnética indicando o tumor e todas as incertezas a respeito do meu futuro surgiram. Foi um choque, um pesadelo, uma sensação que não se pode explicar com palavras.

Primeiramente pensei que pudesse estar sonhando, que a qualquer momento poderia acordar de uma noite mal dormida e continuar minha existência como se nada houvesse ocorrido. Doía demais para ser verdade. Refletir por alguns segundos me fez sentir um tolo, afinal era real demais para ser mentira. Pude enxergar dentro de mim o desespero, a inconformidade, a revolta, a negação. Quantos pobres desgraçados seriam vitimados por um infortúnio tão intenso àquela altura da vida?

Em um primeiro momento negar a hipótese é natural. Ninguém quer acreditar. Não é agradável imaginar o futuro próximo após este tipo de notícia. Como consequência, por um instante tentei conscientemente encontrar um meio de tornar o fato uma falácia para mim. Pensamentos como "o exame pode estar errado" ou "de repente não é tão grave assim" representavam nitidamente o otimismo inconsciente e irracional do momento. A minha mente era uma luta entre o insano e o sóbrio.

Pode parecer duro, mas o enfrentamento da doença não pode aguardar processos de autoconvencimento demorados. Decidi que era preciso entrar em estado de alerta, agir com rapidez, deixar de lado por um momento os sentimentos debilitantes e encarar o desafio. Para mim, estava começando a luta pela vida. Havia um leão faminto vindo em minha direção e eu empunhava minha lança com coragem em um chão onde outros tantos guerreiros outrora sucumbiram. Não havia garantias de sucesso.

Não me dei ao luxo de cair em lamentações. Precisei ser assim, não apenas em causa própria, mas também pelos que derramavam suas lágrimas por mim. Senti que se eu demonstrasse disposição para a luta, conseguiria amenizar o sofrimento de todos. Acho que consegui. O instinto de sobrevivência me trouxe até aqui. Até quando estarei bem, não há como saber, mas uma coisa é certa: é preciso fazer valer a pena.

Lutei pela vida quando o mais fácil era se entregar à escuridão. Penso que muitas vezes viver pode ser mais duro que morrer, porém este tipo de pensamento só leva em consideração o sofrimento próprio, excluindo qualquer ideia mais dotada de reflexão. É preciso encontrar sentido para vencer o sofrimento. Se no fim do arco-íris existe um pote de ouro ou não, não é possível saber. Mas se a recompensa é boa, vale a pena pagar para ver e desta forma cada segundo de sofrimento terá sentido se o que não me deixou esmorecer, existir por mais algum momento na minha vida.