terça-feira, 16 de novembro de 2010

Câncer na Antiguidade?

Uma matéria publicada no site da revista New Scientist no mês passado me chamou a atenção. O título: "Cancer is not a desease of the modern world" (Câncer não é uma doença do mundo moderno).

A reportagem aborda um estudo dos pesquisadores Rosalie David, da Universidade de Manchester, Inglaterra, e Michael Zimmermann da Universidade Villanova, Pensilvânia, que analisaram esqueletos antigos e múmias a procura de evidências de câncer na antiguidade. Além disso, a pesquisa se extendeu às literaturas grega e egípcia. Os achados foram muito escassos (um em quase mil corpos analisados) e diante disto a conclusão dos autores é de que o câncer era uma doença rara na época.

Uma declaração de David foi particularmente infeliz. Segundo ela, "não há nada no ambiente natural, que possa causar câncer. Por isso, tem de ser uma doença feita pelo homem, através da poluição e mudanças em nossa dieta e estilo de vida".

Certamente conhecemos muitos agentes naturais cancerígenos. A radiação ultravioleta que recebemos através do Sol é um exemplo. Fatores hereditários conhecidos, rochas radioativas, HPV e hepatite são outros exemplos. Apesar do exagero na afirmação da autora, não podemos negar que fatores como tabagismo, desequilíbrio alimentar, obesidade e alcoolismo, são malefícios da sociedade moderna que afetam o aumento desproporcional da doença em relação à população.

Boa parte da comunidade científica considera as evidências insuficientes. Vários fatores podem esclarecer os indícios escassos. Um deles é o fato de que na antiguidade a expectativa de vida era inferior a 50 anos e que, considerando os dados epidemiológicos - que sugerem que a incidência de boa parte dos cânceres aumenta significativamente após a quinta década de vida, seria realmente difícil ter muitos achados tendo em conta o tamanho da amostra. Outro argumento do estudo, de que não foram encontrados sinais da doença em, digamos, crianças-múmias, é facilmente explicável pelo baixo índice de câncer em crianças ainda hoje (algo em torno de 1 para 10.000). "Então, mesmo se você tivesse 10.000 múmias infantis, você seria sortudo de encontrar uma." disse Joachim Schüz da International Agency for Research on Cancer em Lyon, France.

Apesar de o estudo ser considerado insuficiente para provar que o câncer é uma doença moderna, é inegável o fato de que os índices têm aumentado significativamente nos últimos tempos e que muitos fatores relacionados ao nosso estilo de vida são responsáveis por estes incrementos nas taxas. Boa parte das conclusões feitas pelos autores podem ser convalidadas pelos dados epidemiológicos das últimas décadas e a tendência é de que estejam corretas.

Para quem quiser saber mais sobre o estudo:
Briefing: Cancer is not a disease of the modern world - New Scientist
Scientists suggest that cancer is man-made - Universidade de Manchester
Cientistas sugerem que câncer é uma doença moderna, causada pelo homem - Revista Galileu

2 comentários:

Pétalas de esperança disse...

Olá!
Vi que vc é um seguidor do meu blog! Tenha calma , rapaz!
Vc está vencendo a guerra e só quem passa por ela, ou a acompanha de perto, sabe o quanto é gratificante vencer! Vc é um vencedor!

Erica disse...

Vitor, boa tarde, tb estou em tratamento quimioterápico e adorei a foto da múmia "câncer na antiguidade" me tirou uma boa gargalhada. Td de bom para vc e boa recuperação. Deus é contigo!(Erica)