
Meu 2010 foi ótimo, por mais incrível que isto possa parecer, muito melhor que 2009. Espero um 2011 ainda melhor que 2010, que a minha recuperação seja concluída da melhor forma e que todos nós sejamos/continuemos felizes.
Um grande abraço a todos!
Um a mais na conta. Ou a menos. Depende do ponto de vista. É mais uma batalha que foi vencida, é menos uma batalha a lutar. Um ano atrás eu não conseguiria imaginar estes números. Quatorze por um lado, quatro por outro. Da mesma forma, ainda não consigo imaginar os números ainda mais importantes. Dezoito por um lado, zero por outro. Este zero que pode ter tantos significados, zero câncer, zero tratamento, zero internações, zero ansiedade, zero sofrimento. Difícil imaginar. Difícil realizar. Uma emoção inenarrável quando acontecer.
O 14º ciclo foi muito tranquilo. Eu diria que foi o ciclo mais tranquilo até agora. Internei no dia 03/10/2010, isto mesmo, no dia das eleições, após cumprir com a minha obrigação de cidadão brasileiro (eu preferiria dizer exercer meu direito ao voto em uma sociedade democrática, mas acontece que o voto ainda é obrigatório, portanto não estou exercendo um direito e sim cumprindo as normas do Estado). Recebi 14g de methotrexate no dia seguinte, a menor dose até o momento e fui liberado na sexta-feira da mesma semana. Todos os índices acompanharam a curva correta. Os rins funcionaram bem e não senti muitos efeitos colaterais.
Enfrentei bem mais essa semana de internação. A reclusão não é muito agradável, mas já desenvolvi ferramentas para ajudar a combater a ansiedade e fazer o tempo passar um pouco mais rápido. Pontuei algumas ideias a seguir.
1- Evitar pensar no tempo
Pensar no tempo é algo que faz o tempo dilatar. O paciente normalmente fica ansioso pensando e calculando quanto tempo ainda falta para sair da reclusão. O interessante é que várias vezes me peguei contando o tempo em função de variáveis secundárias, por exemplo: "faltam três 'Jornais do Almoço' para ir embora" ou "não acredito que ainda tenho que encarar mais dois 'Vídeo Show' ainda".
2- Evitar a cama
Nas primeiras internações eu passava muito tempo na cama. Acordava e não tinha vontade de levantar. Acabava ficando praticamente o dia todo deitado. Isto é muito ruim. Temos que considerar que a partir de um certo tempo (normalmente a partir de terça-feira) já não existe mais sono, portanto mesmo que se fique deitado, não se consegue dormir. Além disso, o humor ficava horrível, a cabeça vazia pensando besteira, sentia menos vontade de comer e sentia mais dificuldades em ir aos pés. Enfim, a cama não ajuda o tempo a passar mais rápido na nossa cabeça, nos debilita fisicamente e psicologicamente. Portanto, cama só para dormir.
3- Evitar a TV nos horários que não agradam
A televisão do hospital é quatorze polegadas. A distância da cama, do sofá e da poltrona que existem no quarto até a televisão é grande. Os canais disponíveis são os da TV aberta. Não bastasse tudo isto, a imagem é ruim, cheia de sombras e toda tremida. Apesar disso, a televisão realmente ainda ajuda bastante a passar o tempo nas horas em que a programação é pelo menos razoável (poucas horas no dia). Então assisto apenas os programas que tenho vontade. Programo toda a minha rotina (almoçar, lanchar, jantar, ir ao banheiro e tomar banho) de acordo com a TV. Adiei meu horário de almoço em quase duas horas para acompanhar todos os noticiários e programas esportivos que passam entre as 12h e as 14h. Da mesma forma, tomo banho ou no horário dos filmes imbecis ou no horário da pior novela do momento. Tento segurar as idas ao banheiro durante os programas, reservando os horários de propaganda para realizar minhas necessidades fisiológicas. É claro que com a rotina "exaustiva" que tenho no hospital não é possível completar todo o espaço de programação ruim da TV. Esse tempo que sobra (é muito tempo!) reservo para o item a seguir.
4- Realizar atividades que der vontade
Levo sempre um livro e o notebook para o hospital, então dá para ocupar o tempo com estas atividades. Leio um pouco. Jogo um pouco. Navego na internet um pouco. Torno a ler. E assim segue. Outra atividade que no meu caso não se aplica devido à total ausência de dom é a música. Para quem sabe tocar algum instrumento, nada melhor do que aproveitar o tempo para tentar tirar aquela música nova ou então aquelas velhas e boas de sempre. Cheguei a comprar um violão. Tentei tocar, aprendi algumas coisas, mas falta o dom. Não tive a paciência necessária e acabei largando o instrumento. Agora ocupo meu tempo com as aptidões que não me faltam.
5- Olhar para a rua
As janelas do quarto são bem altas e enormes, mas vou várias vezes até elas para contemplar a rua. Consigo ver algumas árvores, alguns morros, o estacionamento do hospital e a avenida Ipiranga, sempre movimentada.
6- Tomar banho com bastante calma
Sei que não é ecológico, mas ficar um tempo a mais no banho faz uma diferença enorme no humor. Deixar a água quente cair um pouco sobre o corpo por vezes dolorido, ajuda muito a desestressar e relaxar. Também não posso exagerar, pois a bateria da bomba de administração de soro acaba rápido, mas vale a pena gastar uns 20 minutos embaixo da água quente.
7- Conversar com quem estiver perto
No meu caso, minha mãe, meu pai e a Denise me acompanham sempre. Sempre tem alguém comigo. Às vezes o assunto acaba, mas aí a gente repete, fala de novo das mesmas coisas, lembra de alguma coisa do passado. Assim o tempo acaba andando mais rápido. Quando o pessoal da enfermagem entra no quarto também vale a pena dar uma palavrinha.
8- Receber visitas
Acho que esta é a maneira mais eficaz de fazer o tempo passar. Receber visitas dos amigos ou familiares faz o tempo voar. Na última internação recebi várias visitas, todas me ajudaram muito a conter a ansiedade.
Hoje foi dia de consulta. O Dr. Júlio prescreveu alguns exames de sangue para verificar como estão os índices. Agora já é hora de ir dormir, porque amanhã (tecnicamente hoje, mas como eu ainda não dormi, para mim é amanhã) pela manhã eu tenho que fazer um deles.